segunda-feira, 19 de maio de 2014

A Ferrovia da Fazenda Chimborazo


Trem da CB descarregando sal em um dos terreiros da fazenda Chimborazo. Acervo Arquivo Publico e Histórico de Ribeirão Preto. (Train CB unloading salt at one of the farm yards Chimborazo. Public Archives and Historical Collection in Ribeirão Preto).

(for english, please see below)
Para começarmos a falar da Estrada de Ferro Chimborazo (EFC), como a chamaremos, temos que abordar uma outra história, de uma grande organização rural existente em fins do século XIX e meados do XX, a famosa CARP - Companhia Agrícola do Ribeirão Preto. Não irei me aprofundar nas questões pertinentes à cia, mas é de extrema importância que seja levado em consideração um resumo do que ela foi. As histórias envolvendo a CARP e sua ferrovia infelizmente são cheias de lacunas por ser esta uma empresa privada, não exigindo concessões estaduais ou federais, dificultando a pesquisa.

Breve histórico da CARP.

A CARP foi uma empresa criada em 1888 por um grupo de investidores financeiros do Rio de Janeiro, com chamada de capital de aproximadamente 4000 debêntures no valor médio de 150 réis, sendo autorizado o pagamento de resgate pelo Banco da Republica do Brasil em 28 de fevereiro de 1894.
Em primeiro de abril de 1892, toma posse o novo dono da cia, o sr Conde do Pinhal, que compra a cia dos investidores fluminenses. Seus herdeiros a administram mesmo após sua morte em 1901.

Vista geral da sede da CARP, Fazenda Chimborazo, em 1911. Foto revista Brazil Magazine. (General view of the headquarters of CARP, Farm Chimborazo in 1911. Brazil Magazine Photo magazine).

Possuía uma área de aproximadamente 5 mil alqueires na região compreendida entre os municípios de São Simão e Cravinhos, com 9 fazendas espalhadas por toda a propriedade, sendo elas: Toca; Lagoa; Matão; Santa Fé; Engenho; Monte Belo; Monte Parnazo; Tibiriçá e Chimborazo - esta ultima era a maior de todas e sede administrativa do complexo e contava com os serviços principais de subsistência, escritórios e escola. Havia 2.037.000 de pés de café plantados, fora outras culturas para subsistência e pastagens para animais. Aproximadamente 400 famílias viviam pelas terras da CARP, espalhadas em inúmeras colônias por todas as fazendas, totalizando aproximadamente 3000 colonos.

Em 1923, por força de herança, Pedro Egydio de Queiroz Aranha torna-se dono das ações da CARP e junta-se a seu cunhado, Waldomiro de Almeida Vergueiro. Na data de 05/04/1924, Pedro Egydio, Waldomiro Vergueiro e a empresa “Marques Valle & Cia” firmam contrato de sociedade particular para dispor de todas as ações da CARP, cabendo a Pedro Egydio a nova divisão dos títulos. Porém, de maneira criminosa, protestada por Pedro Egydio, a empresa Marques Valle & Cia vende todas as ações à investidora londrina “The Parents Trust Limited Co”, que repassa os direitos a uma nova empresa, com sede em Londres denominada “Companhia Cafeeira Britânica Brasileira” (CB). Esta empresa administrou a extinta CARP, em meio a diversos processos movidos pelas partes, até o ano de 1938, quando o sr. Paulo Matarazzo adquire todo o complexo.

Neste período, a extinta CARP, extinta CB passa a ser denominada Fazenda Santo André, dividida em quatro seções, a sede, a antiga Fazenda Chimborazo, com o novo nome “Santo André”, e as seções Tibiriçá, Matão e Santo Antônio.  Nos dias de hoje as fazendas ainda pertencem a herdeiros do sr Matarazzo, que já não plantam mais o café, e sim cana de açúcar, com um novos nomes, Fazenda Santa Virgínia e Fazenda Santa Francesca.

A Estrada de Ferro Chimborazo.

Não é totalmente correto chamarmos esta ferrovia como “Estrada de Ferro Chimborazo”, pois Chimborazo era, como citado anteriormente, uma das fazendas do complexo. Porém, sua importância para a CARP (e todas as suas sucessoras) permite que assim a chamemos.
A ferrovia foi criada para uma melhor viabilidade no fluxo de todas as atividades que envolviam a produção do café, que até entrar em funcionamento, era todo feito por meio de tropas de bestas e carroças. A amplitude do local e o grande número de localidades a serem atendidas dentro de todo o complexo da CARP eram um fator determinante para a instalação dos trilhos interligando as propriedades a dois pontos específicos. O ponto de “produção” e o ponto de “escoamento”.



Estação de Tibiriçá, construída pela CARP com autorização da Cia Mogiana. Album da Cia Mogiana de 1910, acervo Museu da Cia Paulista em Jundiaí. (Tibiriçá station, built by the CARP with permission from Cia Mogiana. Album of 1910 Cia Mogiana, collection Museum of Cia Paulista in Jundiaí).

A Cia Mogiana de Estradas de Ferro (CM) cortava a CARP em uma de suas fazendas, vindo de São Simão com direção à Cravinhos. Por pedido da CARP à CM, através de recursos próprios, ela constrói uma estação no quilometro 285,2 de sua linha tronco, com feições totalmente diferentes de qualquer prédio da CM, inaugurada em 15 de julho de 1892, foi denominada Tibiriçá por estar nas terras desta fazenda. Foi, desta maneira, aberto o ponto de escoamento próprio da CARP. Desta estação partiria seu ramal ferroviário, que se desenvolvia por 17 km de extensão em bitola de 60 cm, em uma via única contínua, dividida em três seções, sendo de Tibiriçá à Chimborazo, com 3 kms de extensão, de Chimborazo à Monte Parnazo, com 2,5 kms de extensão, e de Monte Parnazo à Monte Belo, com 11,5 kms de extensão.



Acima e abaixo: Parte da ferrovia entre os cafezais da CARP, no trecho de Chimborazo à Monte Parnazo, próxima a fazenda Chimborazo. Acervo Arquivo Publico e Histórico de Ribeirão Preto. (Above and below: Part of the railway between the coffee plantations of CARP, the stretch of the Monte Parnazo e Chimborazo, near Chimborazo farm. Public Archives and Historical Collection in Ribeirão Preto).

Sugere-se que a construção da ferrovia deu-se entre 1895 e 1897, pois nesses anos, de acordo com os relatórios da CM, o volume de cargas foi muito superior aos tabelados anteriormente e posteriormente, batendo tais volumes com o volume de material necessário à construção da ferrovia e todos os seus suprimentos. Além dos 17 kms de vias, possuiu 4 locomotivas, 30 vagões e 2 carros de passageiros.
Não haviam casas sede (ou “casas grande”) nas demais fazendas do complexo, apenas casas de colonos, tulhas e terreiros. Toda a produção da CARP era processada na fazenda Chimborazo. Por meio da ferrovia, o café colhido e seco em outras localidades era trazido para a casa de maquinas da Chimborazo, onde era beneficiado, e tinha a capacidade de produção de até 1800 arrobas de café por dia, sendo lá estocado. Este café beneficiado, pronto para exportação, era mais uma vez transportado por ferrovia até a estação tibiriçá, onde era baldeada para os trens da CM, seguindo para Santos.

O ramal também servia de transporte aos colonos que moravam em localidades mais distantes dentro do complexo ou para imigrantes que ali desembarcavam, também para o escoamento de itens vindos pela CM para uso das fazendas, com destaque para uma alta circulação de sal, ou mesmo para movimentações de cargas internas, como lenha.


Participantes do Congresso agrícola de Ribeirão Preto em 1914, em visita aos terreiros e complexo da CARP. Revista vida moderna ano IX número 234 13-08-1914 pag 3. (Participants Agricultural Congress of Ribeirão Preto in 1914, to visit the yards and CARP complex. Magazine modern life year number IX 234 13/08/1914 3 pag3 ).

Vagarosamente a cultura do café foi sendo substituída por outras culturas, em menores escalas, que eram facilmente escoadas por meio de caminhões e tratores, que começaram a ser comprados e utilizados nas fazendas do complexo. A ferrovia começa a perder a sua importância, mas ainda estava ativa em 1954.
A CM abre sua retificação ferroviária em 1964, o que fecha a estação de Tibiriçá. Não é possível afirmar que nesta mesma época a ferrovia tenha sido fechada também, mas não haveria sentido sua existência além desta data, levando em consideração a abertura da via anhanguera em 1958 (que passa a menos de 100 metros da estação de Tibiriçá) e a já citada introdução dos equipamentos rodoviários no dia-a-dia da fazenda.
Não se sabe, ao certo, quando a EFC parou de funcionar, mas é aceitável dizer que entre 1954 (ultima data conhecida citada) e 1964 (fechamento da estação de Tibiriçá) a ferrovia sucumbiu. Nada foi encontrado a respeito da destinação do material rodante, nem mesmo dos trilhos, sendo, provavelmente, tudo vendido como sucata. Para o autor, a data mais provável de fechamento da ferrovia é a inauguração da rodovia, em 1958. (Leandro Guidini escreveu em 05/2014).

(Nota do autor: Nas fotografias da ferrovia, vemos claramente um dístico tipado nos vagões "CB". Trata-se da sigla utilizada pela Cia Cafeeira Britânica Brasileira. Logo, acreditamos que todas as fotografias obtidas no Arquivo Publico e Histórico de Ribeirão Preto tenham sido batidas entre 1923 e 1938).     

Referências bibliográficas:
-Botelho, Martinho - Revista Brazil Magazine, ano 5, nº 57.


-Capez, Amim e Daia, João Antonio – Revista Cravinhense, edição especial, 1954.


-Gomes, Francisco – Cravinhos: Histórico Geographico Commercial Agrícola – Typographia Selles, 1922.


-CMEF, Relatório para assembleia dos acionistas da - (1891 a 1900; 1961 a 1964).


- Relatório de RESGATE DO PATRIMONIO ARQUEOLÓGICO CULTURAL MATERIAL: Programa de Gestão do Patrimônio Histórico Arqueológico, Sistema Logístico de Etanol, Trecho I – vol. II; cap. 6 – O Patrimônio Ferroviário, ítem 6.4.3, elaborado por Rafael Prudente Corrêa em coautoria com Leandro Guidini. Junho de 2013 para a Arqueologika.

- DOSP, ano 46, número 45 de 24/02/1935, página 23.


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The Chimborazo farm railway. 
To start talking of Chimborazo Railroad (EFC), as the call, we have to address another story, a large rural organization existing in the late nineteenth and mid-twentieth century, the famous CARP - Agricultural Company of Ribeirão Preto. I will not delve into the issues relevant to the cia, but it is of utmost importance to be taken into consideration a summary of what she was. The stories involving CARP and its railroad unfortunately are full of gaps as this is a private company and does not require state or federal grants, complicating the search.

Brief history of the CARP .
 The CARP was a company created in 1888 by a group of financial investors in Rio de Janeiro, capital call with about 4000 debentures in the average value of 150 reis , and authorized the payment of ransom by the Bank of the Republic of Brazil on February 28, 1894.
On April 1, 1892, the new owner takes possession of the cia, Mr. Conde do Pinhal, who buys the company from investors. His heirs to administer even after his death in 1901 .
Had an area of ​​approximately 5000 acres in the region between the cities of São Simão and Cravinhos with 9 farms scattered throughout the property , as follows: Toca; Lagoa; Matão; Santa Fé; Engenho; Monte Belo; Monte Parnazo; Tibiriçá e Chimborazo - the latter was the largest of all and administrative headquarters of the complex and had the major services of subsistence, office and school. There were 2.037 million coffee plants planted out other crops for subsistence and forage for animals. Approximately 400 families lived in the lands of CARP, scattered in several colonies by all farms, totaling approximately 3000 settlers.
In 1923, by virtue of inheritance, Pedro de Queiroz Egydio Aranha becomes the owner of shares of CARP and joins his coined, Waldomiro de Almeida Vergueiro. On the date of 05/04/1924, Pedro Egydio, Waldomiro Vergueiro and the company "Marques Valle & Cia" enter into a particular association to dispose of all shares of the CARP, being Pedro Egydio of the new division titles. However, the criminal manner, protested by Pedro Egydio, the company Marques Valle & Co. sells all shares the investor London "The Parents Trust Co Limited", which transfers the rights to a new company, based inLondon called "British Coffee Company Brazilian" (CB). This company managed the defunct CARP, amid many lawsuits filed by the parties, by the year 1938, when Mr. Paulo Matarazzo acquires the entire complex.
In this period, the CARP extinct, extinct CB, gets named Fazenda Santo André, divided into four sections, the seat, the old Farm Chimborazo, with the new name " St. André " , and Tibiriçá, Matão and Santo Antonio sections. Nowadays farms still heirs of Mr. Matarazzo, who no longer plant more coffee, but sugar cane, with new names, Fazenda Santa Virginia and Fazenda Santa Francesca belong.

The Railroad Chimborazo.
 Is not quite right we call this railroad as the "Railroad Chimborazo" because Chimborazo was, as previously mentioned, one of the farms of the complex. However, its importance for CARP (and all its successors) allows so we call it.
The railroad was created for better viability in the flow of all activities involving the production of coffee, which come into operation until it was all done by troops of beasts and wagons. The amplitude of the location and number of locations to be answered within the entire complex of CARP were a determining factor for the installation of rails connecting the properties to two specific points. The point of "production" and the point of "flow".
The Mogiana Railway (CM) cut the CARP on one of his farms, coming from the direction of São Simão with Cravinhos. By request of the CM, CARP through its own resources , it builds a station on 285.2 km of your main line with totally different features of any building CM, inaugurated on July 15, 1892. Tibiriçá was called, to be land in this farm. It was, thus, open the individual point of disposal of CARP. This station break your rail spur, which developed over 17 km long in 60 centimeter gauge, in one continuous route, divided into three sections, with the Tibiriçá the Chimborazo, 3 kms long, the Chimborazo to Monte Parnazo, 2.5 kms long, and the Monte Parnazo to Monte Belo with 11.5 kms long.
It is suggested that the construction of the railway took place between 1895 and 1897 because those years, according to the reports of the CM, the cargo volume was much higher than the tabulated earlier and later, beating such volumes to the volume of material required the construction of the railroad and all its supplies. Beyond 17 kms of roads, owned 4 locomotives, 30 cars and 2 passenger cars.
There were no houses office (or "big houses") in the other farms in the complex, only houses of settlers, bins and yards. All production of CARP was processed on the farm Chimborazo. By railroad, harvested and dried in other places coffee was brought to the home machines of Chimborazo, where it was received, and had the capacity to produce up to 1,800 kilos of coffee per day, being stored there. This processed coffee ready for export, was once again transported by rail to the Tibiriçá station where the trains was transhipped to the CM, heading to Santos.
The station also served as transportation to settlers who lived in more distant locations within the complex or immigrants there, also landed for disposal of items coming by CM for use by farms, highlighted by a high circulation of salt, or even to drives internal loads such as firewood.
Slowly the coffee culture was being replaced by other crops, on smaller scales, which were easily disposed of by trucks and tractors, which began to be bought and used on farms in the complex. The railroad begins to lose its importance, but was still active in 1954.
CM opens its rail grinding in 1964, which closes the season Tibiriçá. Can not say that at this same time the railroad was also closed, but it would be meaningless existence beyond, taking into account the opening of anhanguera road saw in 1958 and the aforementioned introduction of road equipment on a day- to-day farm.

No one knows for sure when the EFC has stopped working, but it is acceptable to say that between 1954 (last known date cited) and 1964 (closing the station Tibiriçá) the railroad succumbed. Nothing has been found regarding the allocation of rolling stock, even the rails, and probably all sold as scrap. For the author, the most likely date of closing of the railroad is the opening of the highway in 1958. (Leandro Guidini wrote on 05/2014). 

(Author's note:. Railroad In the photographs, we clearly see a label typed on wagons "CB" This is the acronym used by the British Coffee Cia Brasileira Therefore, we believe that all photographs taken on the Public Archives and History of Ribeirao Preto have. were struck between 1923 and 1938)

segunda-feira, 14 de abril de 2014

The São Paulo Coffee Estates Company


(For english, please see below)
Corria o ano de 1893, quando em 5 de dezembro, Antônio Clemente Pinto Filho, o Conde de São Clemente, residente no Rio de Janeiro, compra uma porção de terras em solo paulista, compreendendo algumas fazendas cafeeiras, sendo as fazendas: Chanaan, Santa Olympia, Posses e São Joaquim.
Todas estas fazendas localizavam-se, na época, no município de São Simão, em zona mogiana, possuindo uma enorme produção de café. A grande demanda na produção leva ao fazendeiro a criação de uma ferrovia agrícola, ligando parte de suas fazendas aos trilhos da Cia Mogiana de Estradas de Ferro (CM), em sua estação mais próxima, de “Serra Azul”, que em 1898 altera seu nome para “Canaã”, de modo que não houvesse confusão com a nova estação da Estrada de Ferro São Paulo Minas, mais próxima à cidade de Serra Azul.  A ferrovia correria toda dentro da zona de privilégio da CM, desta forma, em 19 de novembro de 1895 fora lavrada uma escritura no segundo Tabelião do publico judicial de notas da cidade de Campinas entre o presidente da CM, Barão de Ataliba Nogueira, e o procurador do Conde de São Clemente, Conselheiro Rodolpho Epiphanio de Sousa Dantas.


Fotografia mostrando a fazenda Canaã. É possível observar o trem ao centro da imagem, reproduzido no recorte abaixo. Neste trem vemos uma das locomotivas, 6 vagões e um pequeno carro de passageiros. Sem data e Autor, foto pertencente a Leandro Guidini. (Photograph showing the Canaan farm. You can watch the train to the center of the image reproduced on the clip below. In this we see a train locomotives, 6 wagons and a small passenger car. Author and undated photo belongs to Leandro Guidini.)
As clausulas desta escritura levavam em conta o seguinte: Que ficava autorizado o Conde a construção de um tramway agrícola em bitola de sessenta centímetros, com tração a vapor, denominada “Estrada de Ferro São Clemente” (EFSC), partindo da estação de Serra Azul passando pelas propriedades “Santa Olympia”, “São Joaquim“ e “Chanaan”; Ficaria a CM incumbida de conceder frete de transporte do material da ferrovia entre Campinas e Serra Azul com 50% de abatimento, além de 20% estipulado para material fixo e rodante, pelo mesmo percurso; A CM pagaria subsídio de 8 mil reis por tonelada despachada pela EFSC; Construiria, a CM, em sua estação, os desvios e dependências necessárias para a EFSC, sendo que, dentro deste espaço, estariam todos os funcionários do ramal sujeitos às normas e leis vigentes da CM; Ficaria a CM concedente do uso da água para abastecimento das locomotivas, tomadas de sua estação, com um encanamento de 1 polegada de diâmetro, com instalação por conta da EFSC; Ficaria a EFSC proibida de transportar mercadorias ou despachos em qualquer sentido, de concorrentes da CM, com multa imediata de um frete entre Campinas e Serra Azul; Ficaria a CM privilegiada no caso de venda do ramal, somente sendo possível a venda para terceiros caso a CM desistisse da compra, sendo os futuros donos incumbidos de cumprir a todas as clausulas vigentes da escritura; Deveria o ramal ser construído em um ano, a contar da assinatura da escritura, caso contrário a mesma perderia validade; Não poderia a EFSC se prolongar ou construir ramais sem a devida autorização e consentimento da CM; Todo o despacho executado pela EFSC deveria ser feito exclusivamente pela linha da CM, entre Campinas e Ribeirão Preto, com efeito de, caso houvesse descumprimento, imediatamente seria a CM dona do ramal, pelo valor de base da renda dos últimos três anos anteriores, com juros de 7%.


Estação de Chanaã, de onde partia a SPCE. Album da Cia Mogiana de 1910, acervo Museu da Cia Paulista em Jundiaí. Chanaã station, where the SPCE start. 

A ferrovia possuía 23 quilômetros de extensão, 3 locomotivas, 12 vagões de carga e 4 carros de passageiros e um pequeno ramal para extração de lenha, que cruzava por baixo do ramal de Jataí, da CM (veja uma interessante matéria sobre este ramal aqui). Partia da estação de Canaã no sentido sul, serpenteando as colinas para atingir as fazendas. Operou como EFSC de 1895 à 1897, quando é vendida juntamente das fazendas que atendia para uma nova empresa.


Recorte da carta topográfica mostrando parte da SPCE. Mapa - Arquivo Publico do Estado de SP. (Cut out the topographical map showing part of SPCE. Map - Public Archive of the State of São Paulo.)

EM 21 de abril de 1897, é formada em Londres uma empresa denominada “The San Paulo Coffee Estates Company Limited” (SPCE), com capital de 270 mil Libras Esterlinas, servindo para que os Srs Schröder Gebrüder & Company comprassem as propriedades Santa Olympia, São Joaquim e Chanaan, possibilitando também arrendamentos de armazéns, plantações, maquinas, ferramentas, acessórios e terrenos no Brasil, para diversos outros serviços. A empresa teve escritura lavrada em Londres em 27 de abril de 1897, assinada pelo Tabelião Jonh Venn, e assinatura reconhecida pelo vice-cônsul Luiz Augusto da Costa em 5 de maio de 1897 no consulado da Republica dos Estados Unidos do Brasil em Londres e, finalmente, reconhecida no Brasil em 14 de junho de 1897 pelo diretor geral L. P. da Silva Rosa, no Estado do Rio de Janeiro. Pela letra “f” da terceira clausula da escritura da SPCE, ela poderia manter e explorar qualquer caminho ou estrada, entrando, desta forma, a antiga EFSC na negociação.
Pelo decreto número 2535 de 28 de junho de 1897, o poder Judiciário do Governo Brasileiro concede a SPCE autorização para funcionamento na República, com artigo único: “É concedida autorização à The S. Paulo Coffee Estates Company Limited” para funcionar na Republica, limitando-se, porém, à exploração de fazendas de café que adquirir no Estado de S. Paulo, sob as cláusulas que com este baixam, assignadas pelo Ministro do Estado da Indústria, Viação e Obras Publicas, e ficando os outros serviços mencionados nos respectivos estatutos dependentes de nova autorização do Governo Federal. Capital Federal, 28 de julho de 1897. 9º da Republica. Prudente J. de Morais Barros”  (DOU, número 190, 16/07/1897 – página 1).

A ferrovia operou comercialmente como SPCE desde 1897 até 1939, chegando a se destacar como a 4ª maior produtora de café do Estado, com produção de 300 mil arrobas de café por safra. Em 1939, a empresa foi vendida a um grupo nacional denominado “Cia Brasil Rural S/A”, que desativou a ferrovia, sucateando todo seu material. Sobre as fazendas neste período após 1939, nada foi encontrado. (Leandro Guidini escreveu em abril de 2014)


Tabela publicada em jornal demonstrando os maiores produtores de café do País, a SPCE vem em quarto lugar. Jornal Estado de São Paulo, 21/06/1909, página 3. (Table published in a newspaper showing the largest producers of coffee in the country, the SPCE comes fourth. Estado de São Paulo, 06/21/1909, page 3)


The year was 1893, when on December 5, Antonio Clemente Pinto Filho, the “BArão de São Clemente), resident in Rio de Janeiro , to buy a portion of land in São Paulo, comprising some coffee farms , and farms : Chanaan , Santa Olympia , Posses and São Joaquim.
All these farms were located at the time in the municipality of São Simão in mogiana area, having a huge coffee production. The great demand in production leads to the creation of a farmer agricultural railroad linking part of their farms on main line of Mogiana Railway ( CM ), at your nearest station, " Serra Azul ", which in 1898 changes its name for " Canaan ", so that there was confusion with the new season of the São Paulo – Minas Railroad, the nearest town of Serra Azul. The entire run railroad within the privilege of the CM area, this way in November 19, 1895 a deed drawn out in the second judicial Notary public notes of Campinas between the President of CM , Barão Ataliba Nogueira, and Attorney the Barão de São Clemente, Councillor Epiphanio Rodolpho de Sousa Dantas.
The clauses of this deed took into account the following: What was the Earl authorized the construction of an agricultural tramway gauge on two feet, with steam traction, called " Estrada de Ferro São Clemente " ( EFSC ), starting at the Serra Azul station passing the " Santa Olympia ", " São Joaquim " and " Chanaan " properties; Would be required to provide freight transport of material from railroad between Campinas and Serra Azul with 50% abatement CM, plus 20 % stipulated for fixed and rolling stock, by the same route; The CM would pay allowance $8000 per tonne kings dispatched by EFSC; Build, CM, in its season, and the branchs necessary dependencies for EFSC, and, within this space, all employees would be subject to the extension of current rules and laws of CM; CM would be the grantor of the use of water for supply of locomotives, taken from his station, with a pipe 1 inch in diameter, with installation due to the EFSC; Would be prohibited from transporting goods or decrees in any sense of CM's competitors, with immediate fine of freight between Campinas and the Serra Azul; Would the prime CM in case of sale of the extension, only being possible sale to a third party if the CM gave up the purchase, the future owners being responsible to comply with all applicable clauses of the deed; Should the extension be built in a year, following the signing of the deed, otherwise the same would lose validity; Could the EFSC extend or build extensions without permission and consent of CM; The entire order executed by the EFSC should be done exclusively by the CM line, between Campinas and Ribeirao Preto, in effect, if there was breach, immediately would be the owner of CM extension, the base value of the income of the last three previous years , with 7% interest.
The railroad had 23 quilometers long , 3 locomotives , 12 freight cars and 4 passenger cars and a small extension for the extraction of firewood, crossing underneath the Jataí branch from CM (see an interesting story about this extension on http://www.efpaulista.blogspot.com.br/2014/04/arqueologia-ferroviaria-ramal-de-jatai.html ). Started from Canaan station southbound, winding hills to reach the farms. Operated as EFSC 1895 to 1897, when it sold along the farms that catered to a new company.
ON April 21, 1897, is a company formed in London called "The San Paulo Coffee Estates Company Limited " ( SPCE ) with capital of $270 000, serving to Messrs. Schröder Gebrüder & Company bought the Santa Olympia properties , São Joaquim and Chanaan also allowing leases for warehouses, crops, machinery, tools, accessories and land in Brazil for many other services. The company had deed drawn up in London on April 27, 1897, signed by the Notary John Venn, and recognized by the vice consul Luiz Augusto da Costa on May 5, 1897 at the Consulate of the Republic of the United States of Brazil in London and signature, ultimately recognized in Brazil on June 14, 1897 by CEO L. P. da Silva Rosa, State of Rio de Janeiro. By the letter "f" in the third clause of the deed of SPCE, she could maintain and explore any path or road, entering thus the former SFE in trading.
By decree number 2535 of June 28, 1897, the Judicial power of the Brazilian Government grants SPCE authorization to operate in the Republic, with single article: " Permission is granted to “The S. Paulo Coffee Estates Company Limited " to operate in the Republic , limiting it is, however, the exploitation of coffee plantations that acquire in the State of S. Paulo, under the clauses with this fall, signed by the Minister of State for Industry, Transportation and Public Works, and getting the other services mentioned in the articles dependent release of the new Federal Government. Capital Federal , July 28, 1897. 9º of the Republic. J. Prudente de Morais Barros " ( Gazette , number 190 , 07/16/1897 - page 1 ).
The railroad operated commercially as SPCE from 1897 to 1939 coming to stand out as the 4th largest coffee producer in the State, with production of 4.500.000 kilos of coffee per harvest. In 1939, the company was sold to a national group called " Cia Rural Brazil S / A ", which disabled the railroad recycling all your stuff. On farms in this period after 1939, nothing was found. (Leandro Guidini wrote in April 2014)

quinta-feira, 13 de março de 2014

O Ramal da Fazenda Santa Teresa


Casa sede da fazenda (revsta Brazil Magazine - 08/1911). (Main house of the farm - Brazil Magazine - 08/1911)

(For English, please see bellow)
A Fazenda Santa Theresa, de propriedade da senhora Francisca Maria do Val, era uma das maiores propriedades cafeeiras do município de Ribeirão Preto, sendo dona Francisca considerada uma das "Rainhas do café", perdendo, por pouco, apenas para a senhora Iria Alvez, dona da Fazenda Pau-Alto. 
A Santa Theresa possuía um total de mil alqueires de terra, com 800.000 pés de café produtivos, que lhe rendiam cerca de cem mil arrobas de produção por safra (algo em torno de um milhão e meio de quilos). Apesar de ser dona da propriedade, Dona Francisca, viúva, não vivia em sua fazendo, tendo endereço em São Paulo, em um palacete na Alameda dos bambus no bairro do sumaré, confiando a administração de sua fazenda ao Sr. Theotonio Monteiro de Barros. Cento e vinte famílias moravam e trabalhavam na fazenda, espalhadas em dez colônias, sendo a soma de trabalhadores da fazenda algo em torno de 1500 pessoas. Era provida de um terreiro de secagem de café de 46.000 m², todo ladrilhado e servido por uma linha Decauville. Sua tulha possuía maquinas de beneficiamento movidas a luz elétrica. 



 Acima e abaixo: Terreiro e tulha da fazenda, com sua ferrovia decauville (Revista Brazil Magazine - 08/1911) (Above and bellow: Yard and the farm granary, with its railroad decauville - Brazil Magazine - 08/1911) 

Para seu escoamento, o café era carregado em carroças puxadas por animais até a estação homônima à propriedade, na linha tronco da Cia Mogiana, em uma viagem que durava meia hora, feita três vezes ao dia.
Com a construção do ramal de Jatahy e Piraju pela Cia Mogiana, parte da via teria que passar pelas terras da fazenda, gerando uma desapropriação de terras. Em contrapartida a isso, foi solicitado por dona Francisca auxilio na construção de um ramal agrícola, em bitola de 60 cm, que ligasse sua tulha até a estação de Santa Theresa da CM. "Por escriptura publica, relativa a passagem do ramal de Jatahy e Piraju, em terras da fazenda da Exma. Sra. D. Francisca Silveira do Val, lavrada em 12 de Outubro de 1910, foi estabelecido que a Companhia auxiliaria com trilhos, um pontilhão e respectiva superestructura metallica de seis metros de vão e outros serviços, a construção de um ramal ferreo que a mesma senhora construisse partindo da estação de Santa Thereza e indo até a porta da machina de beneficiar café da fazenda, com desenvolvimento de 3.487 metros." (relatório Cia Mogiana, número 59 de 1911, páginas 234 e 235). O pontilhão citado era sobre o próprio ribeirão preto, a ferrovia seguia o leito da CM por alguns metros, virava a direita sobre o ribeirão e seguia pela encosta de um de seus afluentes até a fazenda.


Mapa da linha (acervo Arquivo do Estado de SP) (Map of the line - public archive os São Paulo State)

A obra de construção ficou a cargo do empreiteiro Affonso Giongo, estando todo ele pronto em 1º de agosto de 1911, quando foi entregue à circulação, a um custo, para a CM de 10:156$367. Na estação da CM, havia um desvio terminal de 76 metros de extensão. A pequena ferrovia possuía uma locomotiva e alguns vagões para o transporte do café. O possível motivo da construção deste ramal era a praticidade e redução de tempo nas viagens entre a fazenda e a estação. O que era feito em meia hora de viagens em carro de boi, passou a ser percorrido em aproximadamente 10 minutos de viagem, com maior lotação, melhorando o escoamento, sendo possível uma maior produtividade. Não foi possível mapear o fechamento do ramal, porém, é plausível acreditar que fora feito entre os anos 1940 e 1950, sendo a estação de Santa Thereza fechada em 01/05/1964.  (Leandro Guidini, apoio Rafael Corrêa - março de 2014).


A estação de Santa Thereza, do lado dos trilhos da Cia Mogiana. (Santa Thereza station, at Mogiana Railway track side)

The Santa Thereza tramway.
The Santa Theresa farm , owned by Mrs. Francisca Maria Val , was one of the largest coffee farms in Ribeirão Preto (São Paulo estate), Mrs. Francisca being considered one of the " Queens of Coffee " , losing narrowly , only to Mrs.Iria Alvez, owner of Fazenda Pau - Alto.
The Santa Theresa had a total of one thousand acres of land with 800,000 productive coffee trees , which yielded him about a hundred thousand kilos of production per crop (something around a million and a half pounds ) . Despite owning property , Mrs. Francisca, widow , did not live in their making , having address in São Paulo city. Maintaining the administration of his estate to Mr. Theotonio Monteiro de Barros . One hundred and twenty families lived and worked on the farm , spread over ten colonies , the sum of the farm workers somewhere around 1500 people. Was provided with a yard for drying coffee 46,000 m² , tiled throughout and served by Decauville line. His granary owned processing machines powered by electricity .
For runoff , the coffee was born in carts pulled by animals to homonymous station property , on the main line of Cia Mogiana , on a journey that lasted half an hour, taken three times a day .
With the construction of the extension and Jatahy and Piraju of Mogiana railway , part of the route would have to pass through the farm lands , generating a land expropriation . In contrast to this, was told by Ms. Francisca aid in the construction of an agricultural extension in gauge 60 cm , linking its fusty station of Santa Theresa of the Mogiana rr. " For Deed publishes on the passage of the extension and Jatahy Piraju in the farm lands of Hon . Dona Francisca Val Silveira's done at 12 October 1910 , it was established that the company would help with rails , one small bridge and its superstructure metallica six meter span and other services , the construction of an iron extension that the same lady build him leaving the Santa Thereza station and going to the door to benefit the coffee machines, in the farm, with development of 3,487 meters. " ( report Cia Mogiana , Number 59 , 1911, pages 234 and 235 ) . The small bridge was mentioned about the ribeirão preto river, the railroad followed the line of the Mogiana rr. for a few yards , turned right on the creek and followed the slope of one of its tributaries to the farm.
The work of construction was the responsibility of the contractor Affonso Giongo, all of it being done on the 1st of August 1911, when it was delivered to the circulation, at a cost to the Mogiana rr. of 10:156 $ 367. In the season, had a terminal deviation of 76 meters in length. The small railroad had a one locomotive and a few wagons to transport coffee. The possible reason of the construction of this extension was the practicality and reduction in travel time between the farm and the season. What was done in half an hour travel in bullock carts, went to be covered in approximately 10 minutes drive, with greater capacity, improving the flow, with possible higher productivity. Unable to map the extension of the closing, however, it is plausible to believe that was done between the years 1940 and 1950 being the station of Santa Thereza closed on 05/01/1964. (Leandro Guidini wrote, support Rafael Corrêa, in March 2014).